quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O Ano em que seus Pais não saíram de Férias

Josuca,
este texto vai diretamente para ti, guri.
Hoje, 29 de dezembro, 39 semanas e 6 dias. Virada da Lua de Minguante para Nova.
Estamos aqui, eu, seu pai e a Mitcha, esperando só você chegar. Tentando segurar esta ansiedade de descobrir que traços você tem, se nascerá com um black power ou não, se seu sorriso será largo ou tranquilo, qual o tom melódico do seu choro...
Faz uns bons anos que sua mãe e seu pai não passam esses dias de suspensão do tempo (período entre natal e ano novo) aqui em Essepê. Nós dois, enquanto casal, desde que nos conhecemos - que não faz tanto tempo assim - passamos natal acampando em Ubatuba,  na praia de Prumirim e, depois, no contrafluxo, o ano novo no sítio do vô Ari, em Minas Gerais.
E este ano, o fatídico 2016,  estamos por aqui, fritando sobre o asfalto e sob o céu de Essepê, à espera de Josué, na vigília, a postos pra acalentar você a qualquer momento.
Então, meu bem, achegue-se conosco, nesta aventura doida que é o viver. Faremos o possível para que seja, ao menos, divertida, a nossa passagem juntos por este mundão.


Tia Carol mandando notícias de Bertioga.




quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Ué, Josué?

Nem José, nem, Miguel, nem João ... É Josué mesmo! Como o personagem de Vinicius de Oliveira em Central do Brasil, o menino da rodoviária que perde a mãe e junto com a Dora, interpretada por Fernanda Montenegro, vai em busca do pai nos rincões do nordeste.

Foi fácil escolher Josué. Foi  ele quem escolheu.

Antes mesmo de saber o sexo comprovadamente, pois desde o início da gestação, já sabia que havia um gurizinho dentro de mim trazido pela Dona Montanha, começamos a conjecturar sobre o nome... Entre Tomás, Tomé, veio "Josué", trazido pelo pai, por conta da música do Nação Zumbi, que cita o nome do estudioso da fome, Josué de Castro, pernambucano, nascido em 1908, contemporâneo de João Guimarães Rosa e da minha avó Arlete Braga.

Josué inspirou o movimento musical manguebeat no início dos anos noventa, encabeçado pelo lendário Chico Science. Este estudioso e professor que foi exilado na França durante a ditadura e por lá ficou até morrer na década de setenta, inspirou o programa Fome Zero do governo Lula e inspirou,por meio do seu livro Caranguejos e Homens, o espetáculo perturbador "Caranguejo Overdrive", da Aquela Cia, cia carioca, dirigida por Marco André Nunes  e dramaturgia de Pedro Kosovski, que eu trouxe para essepê no mesmo momento que Josué foi concebido por mim e por Marcel. Enfim... Josué veio de encontro às nossas crenças e admirações num ano tão difícil e triste politicamente falando.

Mas entre familiares e amigos, foi uma escolha polêmica. Na minha família, quase fizeram um abaixo assinado para eu trocar o nome. Com exceção do meu pai, que falou que Josué é nome de guerreiro e gosta, meus irmãos rechaçaram. O mais velho, o Romeu, corinthiano roxo, disse que Josué é nome de um jogador do São Paulo. Na firma que eu trabalho, muitas pessoas contaram o significado bíblico de Josué. Já ouvi dizer que até "superintendente" de Moisés ele foi intitulado. "Já nasce com patente", Meu Deus, pensei. Mas para os íntimos, que já são muitos, simplificou-se em Jojô. Simpático de tudo. Já virou vereador.

Nesta semana de espera, o Marcel foi lá buscar uma coleção de livros deste autor pra ele saber que Josué foi inspirado num grande homem nordestino e brasileiro. Pra muito além da bíblia.



Na nossa estante vermelha MARAVILHA, muito bem acompanhado por João e Manuel.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Rotas Alteradas

39 semanas e 3 dias.
Segunda-feira, 26 de dezembro.
Quente. Muito Quente.
Um desabafo:
Desde o comecinho da gestação do Josuca, comecei a me deparar com esta questão do parto. Qual será minha escolha em relação à forma de deixar este ser-humaninho vir ao mundo? Rodeada por amigas apoiadoras e incentivadoras do parto humanizado, de todos os depoimentos que ouvi, o que eu mais curti na minha timeline particular, foi de uma amiga querida da firma que pariu sua primeira filha numa casa de parto na zona leste de Essepê, em Sapopemba. A casa de parto é um centro de parto normal, uma associação, com parceria com a prefeitura, em que enfermeiras obstétricas e parteiras experientes realizam o parto normal das mulheres que por lá chegam. Gratuitamente. Elas acompanham desde a 37 semana e a pré-condição é que não seja uma gravidez de risco. O tempo da mulher e do bebê é inteiramente respeitado. Sem anestesia, sem episiotomia, sem indução da oxitocina. Pode soar estranho, mas o parto é ao natural como antigamente. Caso aconteça alguma complicação, a casa de parto tem apoio de um hospital público da Vila Prudente, a 10 minutos do local.
Assim que os bebês nascem vão imediatamente para o colo da mãe e elas são incentivadas e orientadas no ato de amamentar.
Pois então...
Diante de tantas possibilidades vistas, eu escolhi a "lealdade". Fiz meu pré-natal com o médico que me atende há nove anos nas minhas consultas ginecológicas. O meu Dr. é aquele cara que atende num consultório chique-da-vila-olímpia, que conheci por acaso pelo caderninho do convênio da firma, mas me cativou pelo tempo em que se dedica à paciente. Em pleno século XXI, ele conversa. Quase um terapeuta!!! Ele faz umas anotações em papeizinhos que só ele entende. Ao longo da minha solterice, foi ele quem me ensinou o que era um "PA" - pau amigo.
Este meu Dr. é um obstetra em MAIÚSCULO. As pacientes o procuram pelo alto índice de parto normal que realiza ao longo do ano. Raridade hoje em dia no mundo ocidental. Divide o consultório com sua esposa, também obstetra.
Logo no comecinho da gestação, que não foi planejada, comentamos, eu e meu companheiro, que tínhamos a vontade de ter parto normal numa casa de parto. Ele se posicionou contra. Ele e a torcida corinthiana da classe médica. Ficamos divididos.
O tempo foi passando, muito tempo pro trabalho, pouco tempo para dedicação à gestação. E como sou mais intuitiva do que estudiosa, fui seguindo com o meu Dr., acatando alguns de seus conselhos, descartando outros, adiando a visita à casa de parto Sapopemba. E quando me vi, para alívio da minha mãe, já tinha me decidido por ter o Josuca sob os cuidados do Dr. Era mais fácil, prático, conveniente pra mim. Apesar de ter que gastar uma grana pro parto. Sim, os médicos cobram o parto (seja cesárea ou normal).
Mas eis que às vésperas do ano novo, na iminência do Josuca cair no mundão, durante esta última consulta com o Dr, ele levanta a possibilidade da cesárea. Estabeleceu um prazo conosco até 41 semana, caso não tenha contração até lá. Ele disse não gostar muito dos procedimentos do parto normal induzido, e disse que os hospitais particulares também não gostam por conta do tempo que a paciente fica "hospedada" lá. Este meu Dr também é funcionário do Hospital do Servidor (público). Por lá, ele realiza muitos partos induzidos. Mas nos particulares não. Hummmm. A gente vai entendendo tanta coisa... Numa dessas últimas consultas, escutei uma conversa da secretária com um funcionário do condomínio do predio. A esposa do Dr,  a Dra, pediu para o fulano buscar os panetones e pagar o dentista das crianças ( as crianças já são dois jovens de 18 e 15 anos). Eles passarão o ano novo numa casa chiquetosa em Campos do Jordão. Quando pediu pra eu tomar a vacina da coqueluche, recomendou-me que a babá e a empregada que cuidariam do Josuca também tomassem. Pelo teor dos papos todos, a gente vai suspeitando que vivemos em universos bem distintos e com valores totalmente diferentes. Eu gosto muito deste meu Dr. Diria que ele é um "coxinha" com ideias boas. É híbrido. Segue o script, mas revoluciona dentro da coxinhisse. Mas ontem, quando citei a virada da Lua como um presságio, ele foi bem científico e diz não acreditar nas crendices da natureza cabocla. Meu sangue "pataxoca" ferveu e uma lagriminha de arrependimento veio por não ter feito outro caminho nesta jornada chamada gestação.
No caminho para o Ibirapuera, sim, fomos espairecer no parque, ouvindo o Ney, pensei nas mulheres-rotas-alteradas.
Que venha com saúde, Josuca lindão!


domingo, 25 de dezembro de 2016

Lua Nova traga Josué ao mundão!!!

39 semanas e dois dias.

Noite de Natal e um certo alívio, confesso, do Josué não ter querido nascer na melancolia natalina. Acredito que a partir do dia 26 já são dias de festejos rumo ao ano novo. Minha aposta é que ele nasça no dia 29, dia da virada da Lua, que se transformará em NOVA. O céu limpo, só as estrelas, página em branco, tudo de novo.

Enquanto isso, no calor de dezembro, dos excessos dos festejos, da ansiedade batendo à porta, nossa espera é regada por uma coleção de vinis girando esses dias sem parar, banhos de mangueira, arrumação do nosso ninho, palavras sonhadas, nos embalos do sono que precede os momentos de emoção que estão por vir.





segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Meu caranguejinho is comming...

38 semanas. Tenho a impressão que estou me preparando para uma viagem para um continente desconhecido e perigoso, em que preciso de vacinas, prever tudo que pode acontecer, compra de roupas especiais, saber várias línguas estrangeiras. Só que não. A viagem é comigo mesma. Com a minha pŕopria sombra, como bem escreve Laura Gutman, em "A Maternidade e o encontro com a pŕopia sombra". Josuca vem aí. Simples assim. A qualquer momento. E não há manual de instruções que dê conta de tudo isso. Seremos nós: eu e ele, ele e eu. Peito, colo, mama, olho no olho, pele, cheiro, esta simbiose maluca da mãe com seu filhote.

"Parir é como mudar de Planeta"
 Laura Gutman.