terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Rotas Alteradas

39 semanas e 3 dias.
Segunda-feira, 26 de dezembro.
Quente. Muito Quente.
Um desabafo:
Desde o comecinho da gestação do Josuca, comecei a me deparar com esta questão do parto. Qual será minha escolha em relação à forma de deixar este ser-humaninho vir ao mundo? Rodeada por amigas apoiadoras e incentivadoras do parto humanizado, de todos os depoimentos que ouvi, o que eu mais curti na minha timeline particular, foi de uma amiga querida da firma que pariu sua primeira filha numa casa de parto na zona leste de Essepê, em Sapopemba. A casa de parto é um centro de parto normal, uma associação, com parceria com a prefeitura, em que enfermeiras obstétricas e parteiras experientes realizam o parto normal das mulheres que por lá chegam. Gratuitamente. Elas acompanham desde a 37 semana e a pré-condição é que não seja uma gravidez de risco. O tempo da mulher e do bebê é inteiramente respeitado. Sem anestesia, sem episiotomia, sem indução da oxitocina. Pode soar estranho, mas o parto é ao natural como antigamente. Caso aconteça alguma complicação, a casa de parto tem apoio de um hospital público da Vila Prudente, a 10 minutos do local.
Assim que os bebês nascem vão imediatamente para o colo da mãe e elas são incentivadas e orientadas no ato de amamentar.
Pois então...
Diante de tantas possibilidades vistas, eu escolhi a "lealdade". Fiz meu pré-natal com o médico que me atende há nove anos nas minhas consultas ginecológicas. O meu Dr. é aquele cara que atende num consultório chique-da-vila-olímpia, que conheci por acaso pelo caderninho do convênio da firma, mas me cativou pelo tempo em que se dedica à paciente. Em pleno século XXI, ele conversa. Quase um terapeuta!!! Ele faz umas anotações em papeizinhos que só ele entende. Ao longo da minha solterice, foi ele quem me ensinou o que era um "PA" - pau amigo.
Este meu Dr. é um obstetra em MAIÚSCULO. As pacientes o procuram pelo alto índice de parto normal que realiza ao longo do ano. Raridade hoje em dia no mundo ocidental. Divide o consultório com sua esposa, também obstetra.
Logo no comecinho da gestação, que não foi planejada, comentamos, eu e meu companheiro, que tínhamos a vontade de ter parto normal numa casa de parto. Ele se posicionou contra. Ele e a torcida corinthiana da classe médica. Ficamos divididos.
O tempo foi passando, muito tempo pro trabalho, pouco tempo para dedicação à gestação. E como sou mais intuitiva do que estudiosa, fui seguindo com o meu Dr., acatando alguns de seus conselhos, descartando outros, adiando a visita à casa de parto Sapopemba. E quando me vi, para alívio da minha mãe, já tinha me decidido por ter o Josuca sob os cuidados do Dr. Era mais fácil, prático, conveniente pra mim. Apesar de ter que gastar uma grana pro parto. Sim, os médicos cobram o parto (seja cesárea ou normal).
Mas eis que às vésperas do ano novo, na iminência do Josuca cair no mundão, durante esta última consulta com o Dr, ele levanta a possibilidade da cesárea. Estabeleceu um prazo conosco até 41 semana, caso não tenha contração até lá. Ele disse não gostar muito dos procedimentos do parto normal induzido, e disse que os hospitais particulares também não gostam por conta do tempo que a paciente fica "hospedada" lá. Este meu Dr também é funcionário do Hospital do Servidor (público). Por lá, ele realiza muitos partos induzidos. Mas nos particulares não. Hummmm. A gente vai entendendo tanta coisa... Numa dessas últimas consultas, escutei uma conversa da secretária com um funcionário do condomínio do predio. A esposa do Dr,  a Dra, pediu para o fulano buscar os panetones e pagar o dentista das crianças ( as crianças já são dois jovens de 18 e 15 anos). Eles passarão o ano novo numa casa chiquetosa em Campos do Jordão. Quando pediu pra eu tomar a vacina da coqueluche, recomendou-me que a babá e a empregada que cuidariam do Josuca também tomassem. Pelo teor dos papos todos, a gente vai suspeitando que vivemos em universos bem distintos e com valores totalmente diferentes. Eu gosto muito deste meu Dr. Diria que ele é um "coxinha" com ideias boas. É híbrido. Segue o script, mas revoluciona dentro da coxinhisse. Mas ontem, quando citei a virada da Lua como um presságio, ele foi bem científico e diz não acreditar nas crendices da natureza cabocla. Meu sangue "pataxoca" ferveu e uma lagriminha de arrependimento veio por não ter feito outro caminho nesta jornada chamada gestação.
No caminho para o Ibirapuera, sim, fomos espairecer no parque, ouvindo o Ney, pensei nas mulheres-rotas-alteradas.
Que venha com saúde, Josuca lindão!


Nenhum comentário:

Postar um comentário